Material de Estudo
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
Psicologia do Desenvolvimento
ICPG Instituto
Catarinense de Pós-Graduação – www.icpg.com.br
1
A RELEVÂNCIA DA AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
Magrit Froehlich Krueger
Associação Educacional Leonardo da Vinci – ASSELVI
Curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia
Orientadora: Prof ª.
Dr ª. Anamaria Kovács
Resumo
A escola, por ser o primeiro
agente socializador fora do círculo familiar da criança, torna-se
a base da aprendizagem se
oferecer todas as condições necessárias para que ela se sinta
segura e protegida. Assim,
para que a criança tenha um desenvolvimento saudável e
adequado dentro do ambiente
escolar, e conseqüentemente no social, é necessário que haja
um estabelecimento de
relações interpessoais positivas, como aceitação e apoio,
possibilitando assim o
sucesso dos objetivos educativos.
Palavras-chave: afetividade,
aprendizagem, relações interpessoais, desenvolvimento.
1 INTRODUÇÃO
“As escolas deveriam
entender mais de seres
humanos e de amor do que de
conteúdos e técnicas
educativas. Elas têm
contribuído em demasia para a
construção de neuróticos por
não entenderem de
amor, de sonhos, de
fantasias, de símbolos e de
dores”.
Cláudio Saltini
A criança deseja e necessita
ser amada, aceita, acolhida e ouvida para que possa
despertar para a vida da
curiosidade e do aprendizado. E o professor é quem prepara e
organiza o microuniverso da
busca e do interesse das crianças. A postura desse profissional
se manifesta na percepção e
na sensibilidade aos interesses das crianças que, em cada idade,
diferem em seu pensamento e
modo de sentir o mundo.
No presente artigo
pretende-se fazer uma abordagem sobre o tema da
AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO
INFANTIL, destacando alguns conceitos, teorias e
enfatizando sua importância
no processo de ensino e aprendizagem. Para tanto, na primeira 2
parte, apresentar-se-á uma
breve abordagem das teorias da Psicologia do Desenvolvimento,
baseada principalmente em
Piaget, dada a sua importância em
relação ao tema. Num
segundo momento, serão dados
alguns conceitos sobre afetividade. Por fim, entraremos no
tema da afetividade na
educação infantil, que é o cerne do presente artigo.
2 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
SOBRE A PSICOLOGIA DO
DESENVOLVIMENTO
Para que se possa
compreender de forma mais ampla o tema
da afetividade na
educação infantil,
entendemos que primeiramente faz-se necessário tratar rapidamente da
Psicologia do
Desenvolvimento Infantil, especialmente o desenvolvimento cognitivo
estudado por Jean Piaget.
A infância é uma etapa
biologicamente útil, que se caracteriza como sendo o período
de adaptação progressiva ao
meio físico e social. A adaptação, aqui, é “equilíbrio”, cuja
conquista dura toda a
infância e adolescência e define a estruturação própria destes períodos
existenciais. E, conforme
ensina o psicólogo Jean Piaget (1985), “educar é adaptar o
indivíduo ao meio social
ambiente”.
Quando, então, se trata de
educação infantil no contexto da educação moderna é
preciso considerar quatro
pontos fundamentais: a significação da infância, a estrutura do
pensamento da criança, as
leis de desenvolvimento e o mecanismo da vida social infantil.
Entra neste ponto o papel da
psicologia na educação. Piaget afirma que:
[...] a pedagogia moderna
não saiu de forma alguma da psicologia da criança, da
mesma maneira que os
progressos da técnica industrial surgiram, passo a passo, das
descobertas das ciências
exatas. Foram muito mais o espírito geral das pesquisas
psicológicas e, muitas vezes
também, os próprios métodos de observação que,
passando do campo da ciência
pura ao da experimentação, vivificaram a pedagogia
(PIAGET, 1985, p. 148).
Piaget foi um dos grandes
estudiosos da Psicologia do Desenvolvimento; dedicou-se
exclusivamente ao estudo do
desenvolvimento cognitivo, quer dizer, à gênese da inteligência
e da lógica. Ele concluiu
pela existência de quatro estágios ou fases do desenvolvimento da 3
inteligência. Em cada
estágio há um estilo característico através do qual a criança constrói
seu conhecimento. Vejamos:
• Primeiro estágio Î Sensório motor (ou
prático) 0 – 2 anos: trabalho mental:
estabelecer relações entre
as ações e as modificações que elas provocam no ambiente
físico; exercício dos
reflexos; manipulação do mundo por meio da ação. Ao final,
constância/permanência do
objeto.
• Segundo estágio Î Pré-operatório (ou
intuitivo) 2 – 6 anos: desenvolvimento
da capacidade simbólica
(símbolos mentais: imagens e palavras que representam objetos
ausentes); explosão
lingüística; características do pensamento (egocentrismo, intuição,
variância); pensamento
dependente das ações externas.
• Terceiro estágio Î
Operatório-concreto – 7 – 11 anos: capacidade de ação
interna: operação.
Características da operação: reversibilidade/invariância – conservação
(quantidade, constância,
peso, volume); descentração/capacidade de seriação/capacidade
de classificação.
• Quarto estágio Î Operacional-formal
(abstrato) – 11 anos... A operação se
realiza através da linguagem
(conceitos). O raciocínio é hipotético-dedutivo
(levantamento de hipóteses;
realização de deduções). Essa capacidade de sair-se bem com
as palavras e essa
independência em relação ao recurso concreto permite: ganho de
tempo; aprofundamento do
conhecimento; domínio da ciência da filosofia.
Quanto à afetividade, o
psicanalista Sigmund Freud afirmava que os dados
fornecidos pela psicanálise
têm conseqüências importantes para a compreensão das relações
inter-humanas,
principalmente ao mostrar que o objeto de relação é um objeto individual
construído pelo mundo
interno fantástico (de fantasia) variando com nossos investimentos e
em função de nossa história
e de nossos estados afetivos (apud GOLSE, 1998).
Pode-se ainda destacar os
estudos realizados por Henry Wallon, o qual não separou
o aspecto cognitivo do
afetivo. Seus trabalhos dedicam um grande espaço às emoções como
formação intermediária entre
o corpo, sua fisiologia, seus reflexos e as condutas psíquicas de
adaptação. A atuação está
estritamente ligada ao movimento, e as posturas são as primeiras
figuras de expressão e
comunicação que servirão de base ao pensamento concebido, antes de
tudo, como uma das formas de
ação. Segundo Wallon, o movimento é a base do pensamento.
É a primeira forma de
integração com o exterior. 4
3 AFETIVIDADE: ALGUNS
CONCEITOS
No Dicionário Aurélio
(1994), o verbete afetividade está definido da seguinte forma:
“Psicol. Conjunto de
fenômenos psíquicos que se manifestam sob a forma de emoções,
sentimentos e paixões,
acompanhados sempre da impressão de dor ou prazer, de satisfação ou
insatisfação, de agrado ou
desagrado, de alegria ou tristeza.”
Portanto, a afetividade exerce
um papel fundamental nas correlações
psicossomáticas básicas,
além de influenciar decisivamente a percepção, a memória, o
pensamento, a vontade e as
ações, e ser, assim, um componente essencial da harmonia e do
equilíbrio da personalidade
humana.
Aliás, existe acentuada
confusão terminológica em relação à afetividade e ao grande
número de vocábulos
associados ao seu conceito. Os estados afetivos fundamentais são as
emoções, os sentimentos, as
inclinações e as paixões. A palavra
emoção vem do latim
movere, mover-se para fora,
externalizar-se. É a intensidade máxima do afeto.
A emoção é definida assim,
pelo Dicionário Aurélio: “Psicol. Reação intensa e breve
do organismo a um lance
inesperado, a qual se acompanha dum estado afetivo de conotação
penosa ou agradável”.
4 A AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
Na teoria de Jean Piaget, o
desenvolvimento intelectual é considerando como tendo
dois componentes: o
cognitivo e o afetivo. Paralelo ao desenvolvimento cognitivo está o
desenvolvimento afetivo.
Afeto inclui sentimentos, interesses, desejos, tendências, valores e
emoções em geral.
Já Vygotsky (apud LA TAILLE,
1992, p. 11), propôs a construção de uma nova
psicologia, fundamentada no
materialismo histórico e dialético. Aprofundou seus estudos
sobre o funcionamento dos
aspectos cognitivos, mais precisamente as funções mentais e a
consciência. Vygotsky usa o
termo função mental para referir-se a
processos como 5
pensamento, memória,
percepção e atenção. A organização dinâmica da consciência aplica-se
ao afeto e ao intelecto.
Conforme La Taille (1992, p.
76), Vygotsky explica que o pensamento tem sua
origem na esfera da
motivação, a qual inclui inclinações, necessidades, interesses, impulsos,
afeto e emoção. Nesta esfera
estaria a razão última do pensamento e, assim, uma
compreensão completa do
pensamento humano só é possível quando se compreende sua base
afetivo-volitiva. Apesar de
a questão da afetividade não receber aprofundamento em sua
teoria, Vygotsky evidencia a
importância das conexões entre as dimensões cognitiva e afetiva
do funcionamento psicológico
humano, propondo uma abordagem unificadora das referidas
dimensões.
Por sua vez, na
psicogenética de Henry Wallon, a dimensão afetiva ocupa lugar
central, tanto do ponto de
vista da construção da pessoa quanto do conhecimento (LA
TAILLE, 1992, p. 85). Para
este pensador, a emoção ocupa o papel de mediadora. O processo
de desenvolvimento infantil
se realiza nas interações, que objetivam não só a satisfação das
necessidades básicas, como
também a construção de novas relações sociais, com o
predomínio da emoção sobre
as demais atividades. As interações emocionais devem se pautar
pela qualidade, a fim de
ampliar o horizonte da criança e levá-la a transcender sua
subjetividade e inserir-se
no social. Na concepção walloniana, tanto a emoção quanto a
inteligência são importantes
no processo de desenvolvimento da
criança, de forma que o
professor deve aprender a
lidar com o estado emotivo da criança para melhor poder estimular
seu crescimento individual.
No âmbito da educação
infantil, a interrelação da professora com o grupo de alunos
e com cada um em particular
é constante, dá-se o tempo todo, na sala, no pátio ou nos
passeios, e é em função
dessa proximidade afetiva que se dá a interação com os objetos e a
construção de um
conhecimento altamente envolvente.
Como afirma Saltini (1997,
p. 89), “essa interrelação é o fio condutor, o suporte
afetivo do conhecimento”.
Complementa o referido
autor:
Neste caso, o educador serve
de continente para a criança. Poderíamos dizer,
portanto, que o continente é
o espaço onde podemos depositar nossas pequenas
construções e onde elas
tomam um sentido, um peso e um respeito, enfim, onde elas
são acolhidas e valorizadas,
tal qual um útero acolhe um embrião (SALTINI, 1997,
p. 89). 6
A escola, por ser o primeiro
agente socializador fora do círculo familiar da criança,
torna-se a base da
aprendizagem se oferecer todas as condições necessárias para que ela se
sinta segura e protegida.
Portanto, não nos restam dúvidas de que se torna imprescindível a
presença de um educador que
tenha consciência de sua importância não apenas como um
mero reprodutor da realidade
vigente, mas sim como um agente transformador, com uma
visão sócio-crítica da
realidade.
A criança, segundo Marly
Santos Mutschele (1994), ao entrar na escola pela
primeira vez, precisa ser
muito bem recebida, porque nessa ocasião dá-se um rompimento de
sua vida familiar para
iniciar-se uma nova experiência, e esta deverá ser agradável, para que
haja um reforço da situação.
Assim, quando a criança nota
que a professora gosta dela, e que a professora
apresenta certas qualidades
como paciência, dedicação, vontade de ajudar e atitude
democrática, a aprendizagem
torna-se mais facilitada; ao perceber os gostos da criança, o
professor deve aproveitar ao
máximo suas aptidões e estimulá-la para o ensino. Ao contrário,
o autoritarismo, inimizade e
desinteresse podem levar o aluno a perder a motivação e o
interesse por aprender, já
que estes sentimentos são conseqüentes da antipatia por parte dos
alunos, que por fim
associarão o professor à disciplina, e reagirão negativamente a ambos.
Num apropriado comentário de
Chardelli (2002):
A todo momento, a escola
recebe crianças com auto estima
baixa, tristeza,
dificuldades em aprender ou em se
entrosar
com os coleguinhas e as
rotulamos de complicadas, sem
limites ou sem educação
e não nos colocamos diante delas a
seu favor, não compactuamos
e nem nos aliamos a elas, não as
tocamos e muito menos
conseguimos entender o verdadeiro
motivo que as deixou assim.
A escola facilita o papel da
educação nos tempos atuais, que
seria construir pessoas
plenas, priorizando o ser e não o ter,
levando o aluno a ser
crítico e construir seu caminho.
Crianças pequenas (período
sensório-motor), por exemplo, querem interagir com os
objetos manipulando-os com
todo o seu corpo, não só com as mãos, pois esta é uma
necessidade natural do seu
desenvolvimento, conforme Saltini (1997, p. 91).
É preciso que se esteja
atento, também, que na idade pré-escolar, assim como na
primeira infância, os
sentimentos imperam em todos os aspectos da vida da criança, dando
cor e expressividade a essa
vida. A criança não sabe dominar suas
paixões, portanto a
exteriorização dos
sentimentos é muito mais impetuosa,
sincera e involuntária do que no 7
adulto, como afirma Mukhina
(1998, p. 209): “Os sentimentos da criança brotam com força e
brilho, para se apagarem em
seguida; a alegria impetuosa é muitas vezes sucedida pelo
choro.”
Ainda conforme este autor, a
criança extrai suas vivências principalmente do contato
com outras pessoas, adultos
ou crianças. Se os que a rodeiam a tratam com carinho,
reconhecem seus direitos e
se mostram atenciosos, a criança experimenta um bem-estar
emocional, um sentimento de
segurança, de estar protegida. E, conforme Mukhina (1995, p.
210), “o bem estar emocional
ajuda o desenvolvimento normal da personalidade da criança e
a formação de qualidades que
a tornam positiva, fazendo-a mostrar-se benevolente com
outras pessoas”.
Saltini também se refere à
questão da manutenção da serenidade por
parte da
professora e da criança.
Como explica o autor,
A serenidade e a paciência
do educador, mesmo em situações difíceis faz parte da
paz que a criança necessita.
Observar a ansiedade, a perda de
controle e a
instabilidade de humor, vai
assegurar à criança ser o continente de seus próprios
conflitos e raivas, sem
explodir, elaborando-os sozinha ou em conjunto com o
educador. A serenidade faz
parte do conjunto de sensações e percepções que
garantem a elaboração de
nossas raivas e conflitos. Ela conduz ao conhecimento do
si-mesmo, tanto do educador
quando da criança (SALTINI, 1997, p. 91).
Outrossim, também no
entender de Saltini (1997, p. 90), é preciso
[...] encorajar a criança a
descobrir e inventar, sem ensinar ou dar conceitos prontos.
A resposta pronta só deve
ser dada quando a pergunta da criança focaliza um ato
social arbitrário (funções
do objeto cotidiano). Manter-se atento à série de
descobertas que as crianças
vão fazendo, dando-lhes o máximo de possibilidades
para isso. Dar atenção a
cada uma delas, encorajando-as a construir e a se conhecer.
Dar maior incentivo à
pergunta que à resposta. Sempre buscando
no grupo a
resposta o professor
procurará sistematizar e coordenar as idéias emergentes.
A relação que se estabelece
com o grupo como um todo e a pessoal com cada
criança é diferenciada em
todos os seus aspectos quantitativos e cognitivos
respeitando-se a maturidade
de seu pensamento e a individualidade. [...]
Quando ocorrem explosões de
raiva, o professor precisa ter muita habilidade. Para
tanto, faz-se necessário
manter um diálogo com a criança, em que se possa perceber o que
está acontecendo, usando
tanto o silêncio quanto o corpo, abraçando-a quando ela assim o
permitir; compartilhar com
os demais da classe os sentimentos que estão sendo evidenciados
nesse instante é um trabalho
quase terapêutico, conforme recomenda Saltini (1997, p. 91). 8
Também o tratamento equânime
para com todos os alunos precisa ser sempre
mantido e explicitado, e
nenhuma criança deve ter a percepção de ser perseguida ou amada
em demasia. É preciso
observar, neste sentido, que a opinião de cada criança tem o mesmo
respeito e valor, sem
ressaltar o feito de alguma criança ou
compará-la com outra, nem
salientar diferenças entre
meninos e meninas em brincadeiras e jogos, pois isto seria
prejudicial ao
desenvolvimento afetivo sadio.
E, finalmente, como também
sugere Saltini (1997, p. 92), “o interesse da criança é
que programa o dia e não
vice-versa, visando assim o entusiasmo do grupo e energizando o
conhecimento”.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desde o jardim de infância,
a escola torna-se o centro da vida extra-familiar,
ocupando a maior parte do
período de vigília. Os professores que a criança tem, os métodos
de ensino e os tipos de
livros-textos aos quais é exposta, terão efeitos importantes não apenas
para o processo acadêmico,
como também na capacidade geral para encarar a vida, dominar
problemas e desafios novos,
levando o educando à auto-confiança e auto-estima.
Assim, para que a criança
tenha um desenvolvimento saudável e adequado dentro do
ambiente escolar, e
conseqüentemente no social, é necessário que haja um estabelecimento de
relações interpessoais
positivas, como aceitação e apoio, possibilitando assim o sucesso dos
objetivos educativos.
Na condição de educadores,
precisamos estar atentos ao fato de que, enquanto não
dermos atenção ao fator
afetivo na relação educador-educando, corremos o risco de estarmos
só trabalhando com a
construção do real, do conhecimento, deixando de lado o trabalho da
constituição do próprio
sujeito – que envolve valores e o próprio caráter – necessário para o
seu desenvolvimento
integral.
Vale destacarmos aqui uma
afirmação feita pelo cientista político Armando Moreira
(apud MOREIRA, 2002), quando
diz que a afetividade deve prevalecer nas relações humanas
de modo geral e na escola em
particular: 9
Isso porque é um lugar onde
a criança deposita confiança quanto à pertinência e o
conteúdo de seu aprendizado.
Se não houver afetividade na transmissão
de
conhecimentos, a criança não
se sentirá valorizada e respeitada, e a tendência é que
desdenhe das lições que lhe
serão passadas.
Obviamente isso não
significa fazer “vistas grossas” com relação aos erros da
criança, pois a advertência
segura e equilibrada é justamente uma manifestação das mais
importantes da afetividade.
Está, portanto, mais do que
evidenciada por estudiosos, pesquisadores e
especialistas, a necessidade
de se cuidar do aspecto afetivo no processo ensinoaprendizagem, levando em
conta que a criança é diferente, cognitiva e afetivamente falando,
em cada fase do seu
desenvolvimento.
Educação Psicomotora
CML EDUCACIONAL
Curso de Pós-Graduação
Lato – Sensu
EDUCAÇÃO
PSICOMOTORA
São
Paulo
2012
Educação Psicomotora
Abrange
todas as aprendizagens da criança, processando-se por etapas progressivas e
especificas conforme o desenvolvimento geral de cada indivíduo.realiza-se em
todos os momentos da vida por meio de percepções vivenciadas ,como uma
intervenção direta nos aspectos cognitivo, motor e emocional, estruturando o
indivíduo como um todo.A educação passa pela facilitação das condições naturais
e prevenção de distúrbios corporais. Ela se realiza na escola, na família e no meio social, com a participação de
educadores, dos pais e dos professores em geral ( professores de natação, de
atividades aquáticas , judô, balé, ginástica, dança, arte-educadores,
magistério etc.). Dirige-se prioritariamente às crianças em condições enfatizam
essa área de atuação.
Le Boulch (1981) comenta que a
“educação psicomotora deve
ser considerada como uma educação de base na escola elementar, ponto de partida
de todas as aprendizagens pré-escolares e escolares.”Ele lutou e
conquistou, na década de 60, a
inclusão da educação psicomotora nos cursos primários da França.
Vayer(1969)
coloca que
Do ponto de vista educativo,
o papel e lugar da educação psicomotora na educação geral corresponderá,
naturalmente, às diferentes etapas do desenvolvimento da criança, e assim
entendemos que: no curso da primeira infância, toda educação é educação
psicomotora; no curso da segunda infância, a educação psicomotora permanece
sendo o núcleo fundamental de uma ação educativa que começa a diferenciar-se em
atividades de expressão, organização das relações lógicas e as necessárias aprendizagens
de leitura-escrita-ditado; no curso da “grande infância “, a diferenciação
entre as atividades educativas se faz mais acentuadamente, e a educação
psicomotora mantém então a relação entre as diversas atividades que concorrem
simultaneamente ao desenvolvimento de todos os aspectos da personalidade.
Lapierre (1989) coloca que a educação psicomotora “ é uma ação
psicopedagógica que utiliza os meios de
educação física , com a finalidade de normalizar ou melhorar o comportamento do
indivíduo”.
Picq-Vayer (1969) sugerem
que se investiguem as técnicas mais eficazes para obter uma melhora progressiva
no comportamento geral da criança.
E Bueno (1998, p.84)
completa dizendo:
A
consciência do corpo, o domínio do
equilíbrio , o controle e mais tarde a eficácia das diversas coordenações
gerais e segmentares, a organização do esquema corporal, a orientação no espaço
e, finalmente, melhores possibilidades de adaptação ao mundo exterior são os
principais motivos da educação
psicomotriz.
A vertente denominada Educação
Psicomotora tem por finalidade promover, através de uma ação pedagógica, o
desenvolvimento de todas potencialidades da criança, objetivando o equilíbrio
biopsicossocial (NEGRINE, 1986).
Le Boulch (1982 apud NEGRINE, 1986)
explica que a Educação Psicomotora é formadora de uma base indispensável a toda
criança, pois tem como
objetivo assegurar o desenvolvimento funcional, levando em conta as
possibilidades da criança, possibilitando, também, através das relações
interpessoais, a expansão e o equilíbrio de sua afetividade.
Para Falkenbach (2002), a finalidade da
prática da educação psicomotora é.
- 1º) promover um meio lúdico-educativo para a criança expressar-se por intermédio do jogo e do exercício, devendo possibilitar às crianças a exploração corporal diversa do espaço, dos objetos e dos materiais;
- 2º) facilitar a comunicação das crianças por intermédio da expressividade motriz;
- 3º) potencializar as atividades grupais e favorecer a liberação das emoções e conflitos por intermédio do vivenciamento simbólico.
A Educação Psicomotora atualmente se
divide em dois eixos: a Psicomotricidade Funcional e a Psicomotricidade
Relacional. Negrine define o aspecto que diferencia as duas práticas,
elucidando-nos que “(...) o ponto fundamental da passagem da psicomotricidade
funcional à relacional é a utilização do jogo (brincar da criança) como
elemento pedagógico” (1995, p. 74).
Psicomotricidade
Funcional
Para
Negrine (2002), a psicomotricidade funcional compreende o desenvolvimento
psicomotriz a partir de bases teóricas de neuroanatomia funcional, tendo como
base concepções sobre a motricidade que acreditam que o processo de
desenvolvimento humano é decorrente dos processos de maturação.
As capacidades e habilidades motrizes
seguiriam um padrão evolutivo igual em todas as pessoas e poderiam ser
avaliadas através de exercícios-testes padronizados para as diferentes idades.
Variáveis como sexo, fatores culturais, experiências vivenciadas, não eram
levadas em conta. Na
avaliação do perfil psicomotor da criança algumas variáveis eram analisadas,
como por exemplo equilíbrio estático e dinâmico, coordenação apendicular,
coordenação visomanual (movimentos finos e delicados), sincinesias, paratonias,
lateralidade e orientação espacial (NEGRINE, 2002).
Este mesmo autor explica que a
psicomotricidade funcional se sustenta em diagnósticos do perfil psicomotriz e
na prescrição de exercícios para sanar possíveis descompassos do
desenvolvimento motriz. A estratégia pedagógica baseia-se na repetição de
exercícios funcionais, que são estereótipos criados e classificados
constituindo as famílias de exercícios: exercícios de equilíbrios estáticos e
dinâmicos, exercícios de coordenação, exercícios de flexibilidade, e exercícios
de agilidade e destreza.
Dentro
deste eixo da psicomotricidade educativa, Langlade (1974 apud NEGRINE, 2002) afirma que a educação
psicomotriz é uma ação psicológica e pedagógica que utiliza os meios da
Educação Física com a finalidade de normalizar ou melhorar o comportamento da
criança.
Picq e Vayer (1985) explicam que, após
a análise dos problemas encontrados, a psicomotricidade funcional tem a finalidade de educar
sistematicamente as diferentes condutas motoras, permitindo assim uma maior
integração escolar e social.
Em suas primeiras obras sobre a psicomotricidade
funcional, Aucouturier e Lapierre colocam que a “(...) organização espaço
gráfica, necessária para a aquisição da leitura e da escrita, necessitava da
prévia organização do espaço de modo geral e inicialmente corporal” (1985a,
p.09), com isso determinam como objeto de sua prática, crianças com algum grau
de dificuldade de aprendizagem (disléxicos, disgráficos, agitados), traçando o
perfil psicomotor da criança e depois apresentando tabelas de exercícios com o
objetivo de sanar os problemas.
Negrine teve sua formação inicial na
psicomotricidade funcional. Seus estudos e o desenvolvimento das sessões de
psicomotricidade eram destinados a crianças que apresentavam problemas de
aprendizagem, mais especificamente na leitura, na escrita e no cálculo matemático.
Este método se sustenta no discurso de que o desenvolvimento de certas
habilidades motrizes permite a melhora do desempenho nas aprendizagens
cognitivas (NEGRINE, 1986).
O desenvolvimento da sessão de
psicomotricidade funcional é estruturado de forma que o aluno imite os modelos
de exercícios pré-programados, que são propostos pelo professor “(...) a
criança não tem escolha, todas ao mesmo tempo devem realizar os exercícios que
são propostos” (NEGRINE, 2002, p.117). O professor utiliza-se de métodos
diretivos, tornando seu aluno dependente de suas ações, não dando espaço para
que a criança realize atividades que permitam explorar o mundo simbólico,
impedindo a exteriorização de sua expressividade motriz.
Em relação aos métodos diretivos,
Negrine (2002) chama a atenção para o fato de que estes estão relacionados a
estratégias pedagógicas voltadas à correção. O gesto motriz que não é realizado
conforme a solicitação do professor é considerado errado. Deste modo, criam-se
inibições e resistências de exteriorização corporal, e, devido a isso, a
avaliação se torna uma ação puramente quantitativa, só valorizando a correta
execução dos exercícios propostos.
A relação que o psicomotricista
funcional tem com a criança é uma relação de comando “(...) é uma intervenção
no corpo de forma mecânica” (NEGRINE, 1995, p. 56), e o contato corporal entre
eles ou com outras crianças só ocorre se estiver determinado no exercício
proposto.
É importante salientar que existem
vários autores que estudam e aplicam a psicomotricidade funcional, tais como:
Le Boulch, Picq, Vayer, mas neste estudo me detive aos que considero
principais.
Este eixo da educação psicomotora é
seguido por muitos professores de Educação Física, mas o desenvolvimento dessa
prática se assemelha muito a forma tradicional de uma aula de ginástica.
Psicomotricidade
Relacional
A psicomotricidade relacional é uma
abordagem psicopedagógica que se dá pela via corporal, englobando uma série de
estratégias de intervenções e de ações pedagógicas que servem como meio de
ajuda à evolução dos processos de desenvolvimento e de aprendizagem da criança.
Ela compreende que o desenvolvimento humano é decorrente da inter-relação entre
fatores internos, que correspondem aos processos biológicos, e fatores externos
que dizem respeito ao processo de aprendizagem que se origina nos aspectos
histórico-culturais (NEGRINE, 2002).
Este mesmo autor explica que a
psicomotricidade relacional utiliza-se da ação do brincar como elemento
motivador para provocar a exteriorização corporal da criança, pois entende que
a ação de brincar impulsiona processos de desenvolvimento e de aprendizagem.
Essas estratégias de intervenções pedagógicas criam, também, condições
favoráveis para a construção de um vocabulário psicomotor amplo e diversificado
e servem como meio de melhora das relações da criança com o adulto, com os
iguais, com os objetos e consigo mesma.
A utilização de métodos não-diretivos
permite que a criança manifeste todo seu interesse, atitudes e valores que
retratam as emoções e os sentimentos de cada momento vivido. Estes métodos
também permitem que o psicomotricista faça interpretações significativas das
ações que a criança experimenta quando se exterioriza, seja através da mímica,
dos gestos ou das produções plásticas. Para isso é necessário que tenha uma
atenção maior, pois deve observar e identificar as crianças que mais necessitam
de seu auxílio (NEGRINE, 2002).
Na forma de pensar de Negrine (2002), a
psicomotricidade relacional está alicerçada em três aspectos, que determinam suas
finalidades. O primeiro diz respeito à experimentação corporal múltipla e
variada, no qual o psicomotricista deve permitir, facilitar e provocar a
criança à experimentação de diversos movimentos com o próprio corpo, com
objetos ou com disfarces.
O segundo aspecto é o estímulo à
vivência simbólica, isto é, permitir que a criança realize atividades
representativas. Com a realização destas ações corporais (movimentos, gestos,
mímicas) a criança constrói o conhecimento das coisas e do mundo, amplia seu vocabulário
psicomotor, aciona mecanismos de pensamento representativo. Este, por sua vez,
aciona a fala egocêntrica, exercitando a comunicação oral.
O terceiro aspecto se refere à
comunicação como elemento de intervenção pedagógica, de socialização e de exteriorização
da criança. Isto quer dizer que a comunicação expressa de diferentes formas -
verbal, plástica, pictórica - serve como instrumental que o psicomotricista
utiliza para fazer a criança evoluir.
No que diz respeito à relação
adulto/criança, é fundamental que o psicomotricista ajude a criança a realizar
tudo aquilo que ainda não é capaz de realizar sozinha; é necessário que ele
exerça um papel de mediador, seja para provocara sua exteriorização, seja para
dar segurança, seja para determinar limites à criança. Na relação do
psicomotricista relacional com a criança, o toque corporal é um forte aliado,
pois com ele vínculos afetivos são estabelecidos, dando segurança e ajuda à
criança. “O papel do psicomotricista relacional é sempre de ajuda, entretanto ele
também interage, sugere, propõe, estimula e escuta a criança” (NEGRINE, 2002,
p.124).
Segundo Negrine (2002), a sessão de
psicomotricidade relacional segue uma rotina que se divide em três momentos:
1º) ritual de entrada; 2º) atividades livres de expressão, construção e
comunicação e 3º) ritual de saída, pois todo o ato pedagógico deve ter início,
meio e fim.
No ritual de entrada, o professor e as
crianças sentam-se em círculo, se apresentam de forma que todos possam falar e
ser escutados estabelecendo as combinações (regras de convivência) referentes
àquela sessão, cabe ao psicomotricista neste momento provocar as crianças a
realizarem diversas experimentações.
A segunda parte da sessão é destinada à
realização de atividades livres de expressão, construção e comunicação. No
início se dá um estímulo às crianças e depois elas passam a brincar com o que
quiserem. É importante que o psicomotricista permita a experimentação de
diversas atividades e que exija o cumprimento das regras de convivência
estabelecidas no ritual de entrada.
O ritual de saída é o momento em que o
psicomotricista diz que o jogo acabou. Com isso as crianças devem interromper
as brincadeiras e devem ajudar a guardar o material que foi utilizado na
sessão, pois isto havia sido combinado no ritual de entrada. Após terem
guardado todos os materiais, se dá início ao encerramento da sessão. Todos
devem sentar novamente em círculo e o psicomotricista deverá provocar a
verbalização das crianças ao grande grupo sobre aquilo que realizaram durante a
sessão e sobre o que mais gostaram de fazer, sempre lembrando que todos terão a
oportunidade de falar e ser escutados.
É importante ressaltar que existem
nuances dentro da psicomotricidade relacional, e que autores que tiveram a
mesma formação inicial, no decorrer de seus estudos acabam, seguindo linhas
diferentes, como por exemplo: Aucouturier, Lapierre e Negrine.
Aucouturier determina que, na sessão, o
jogo de pulsão (jogo sensório-motor – classificação de Piaget)deve ser
potencializado, e a prática da psicomotricidade tem sua função até os oito
anos, por outro lado Lapierre entende que o jogo simbólico é que deve ser
potencializado, e que a psicomotricidade deve se aplicar às crianças, aos
adolescentes e também aos adultos (NEGRINE, 1995).
Uma característica importante a
respeito da psicomotricidade relacional de Aucouturier, que é seguida por
diversos psicomotricistas, é que a organização da sessão segue uma seqüência
temporal, isto é, a criança deve seguir uma determinada ordem para executar os
jogos: momento inicial ou ritual de entrada; jogos de segurança profunda, jogos
de prazer sensório-motor; jogos simbólicos; narração de história, atividades de
representação e momento final ou ritual de saída (MARTÍNEZ, PEÑALVER e
SANCHEZ,2003).
Outro aspecto importante a ressaltar,
que é bem diferente do contexto escolar brasileiro, é que a sessão é realizada
somente em ambientes fechados (sala de psicomotricidade) que possuem materiais
fixos (escadas, barra de equilíbrio, tatames) e diversos materiais complementares
(blocos de espuma, aros, bola grande bichos de pelúcia, cordas, fantasias).
Estes ambientes possuem também mesa com cadeiras e material audiovisual e
musical, e o grupo de crianças é em número bem reduzido (MARTÍNEZ, PEÑALVER e
SANCHEZ,2003).
Os estudos iniciais de Negrine
estiveram voltados à prática da psicomotricidade funcional. Sua formação na
Escola de Expressão e Psicomotricidade da Prefeitura de Barcelona seguiam as
orientações de Bernard Aucouturier, mas a linha pedagógica que ele segue no momento
atual está configurada dentro de uma perspectiva relacional (NEGRINE, 2002).
Um aspecto importante a destacar é que
a psicomotricidade relacional desenvolvida por Negrine se diferencia das demais
práticas devido a fatores que são bem referenciados por Falkenbach (2002, p.
76):
a) o autor se diferencia da maioria dos
psicomotricistas pela sua fundamentação teórica que reconhece as diferentes
vertentes da psicomotricidade e os seus principais autores, bem como as
limitações e as vantagens das práticas que utilizam;
b) oxigena o referencial teórico da
psicomotricidade com elementos da antropologia, da psicopedagogia que
contribuem à tradicional visão psicanalista, que ainda é hegemônica e a
enriquecem;
c) inova com a utilização dos
referencias teóricos de Vygotsky, teórico que contribui para uma mudança na
compreensão psicopedagógica do desenvolvimento e aprendizagem infantil, bem
como do significado dos jogos para a prática da psicomotricidade;
d) estabelece um divisor de águas para
a leitura do movimento que faz a criança. Explica que em um ambiente lúdico a
criança faz uma trajetória denominada de trajetória lúdica e seu
movimento flutua entre; a) ser um movimento técnico, o que significa fazer
exercícios; b) brincar de faz-de-conta, isto é, jogar simbolicamente;
e) desenvolve e estrutura a organização
da prática psicomotriz educativa com grupos de crianças, adequadas para o
ensino regular e os diversos contextos que promovem a movimentação infantil.
Este eixo da psicomotricidade educativa
é multifacetado, cabendo ao professor de Educação definir qual será sua proposta de trabalho,
traçando objetivos e tendo como base concepções sobre o desenvolvimento e
aprendizagem infantil.
Educação Psicomotora
funcional e relacional
Na educação psicomotora funcional, o
adulto exerce uma relação de comando com a criança, raramente ocorrem contatos
corporais. A criança deve seguir os modelos que são propostos pelo professor,
caso não consiga, os erros são corrigidos. O professor utiliza-se de métodos
diretivos para a realização das atividades que são pré-programadas, e a sessão
é destinada a grupos de crianças.
Já na educação psicomotora relacional,
a relação que o professor exerce com a criança, é de ajuda, de escuta, de
mediação, de interação e de provocação a novos desafios, ocorre o contato
corporal entre ele e as crianças, e entre elas mesmas.
A sessão de psicomotricidade relacional
é destinada a grupos de crianças e divide-se em três fases: 1º) ritual de
entrada, 2º) atividades livres de expressão, construção e comunicação e 3º)
ritual de saída. O professor utiliza-se de métodos não diretivos para a
realização de sua prática, na sua avaliação não mede e nem compara uma criança
com a outra, ou seja, não emite juízo de valor.
O quadro abaixo tem como objetivo
mostrar de uma forma didática a descrição e a categorização das duas vertentes
da psicomotricidade aqui citadas
EDUCAÇÃO
PSICOMOTORA
FUNCIONAL
|
EDUCAÇÃO
PSICOMOTORA
RELACIONAL
|
|
Sanar problemas motores, melhorar as
aprendizagens cognitivas e o comportamento da criança.
|
Desenvolver as potencialidades
relacionais da criança utilizando a ação do brincar
|
A educação psicomotora deve ser uma formação
de base indispensável para toda criança, pois oferece uma melhor capacitação ao
aluno para uma maior assimilação das aprendizagens escolares. Um bom
desenvolvimento psicomotor proporciona ao aluno algumas capacidades básicas
para um bom desempenho escolar.
Funcionamento
do Desenvolvimento Psicomotor
Para que
possamos compreender melhor a importância da psicomotricidade no desempenho
escolar das crianças, é preciso entender como esse processo acontece.
Sistema
Nervoso:
Oliveira
afirma que o movimento e a integração do homem às condições do meio
ambiente,dependem do sistema nervoso. Esse sistema coordena e controla todas as
atividades do organismo, integra sensações e idéias, interpreta os estímulos
vindos da superfície do corpo, e de todas as funções é selecionar e procurar
informações, canalizando-as para as regiões motoras correspondentes do cérebro,
para que depois sejam emitidas respostas adequadas, de acordo com cada
indivíduo. As células que compõe o sistema nervoso, são os neurônios, que
possuem a função de condutibilidade e excitabilidade.
A maturação nervosa é um dos fatores
relevantes no desenvolvimento mental, sendo importante considerar fatores como
interação do indivíduo com o meio. A psicomotricidade pode auxiliar o aluno a
alcançar um desenvolvimento integral, que o preparará para uma aprendizagem
mais satisfatória. Algumas habilidades são muito importante no desenvolvimento
psicomotor da criança.Essas habilidades permitem, por exemplo, que uma pessoa
manipule objetos da cultura em que vive. Para que essa pessoa se movimente no
espaço com desenvoltura, equilíbrio e coordenação, é preciso ter o domínio do
gesto e do instrumento. A coordenação e o equilíbrio são elementos de base para qualquer movimento.
Desenvolvimento
Psicomotor e a Interação Escolar
Os
argumentos geralmente invocados para justificar a educação psicomotora na
escola primária colocam em evidência a superação de dificuldades escolares.Na
tentativa de uma verdadeira preparação para a vida é que entra o papel da
escola, e os métodos pedagógicos renovados tendem a ajudar as crianças a se
desenvolverem da melhor maneira possível.O desenvolvimento psicomotor auxilia a
criança para a vida, desde a fase escolar até a fase profissional.
As práticas da psicomotricidade geralmente se desenvolvem com
atividades que objetivam movimento, possuindo uma extensa ligação com o
desenvolvimento, aprendizagem e a personalidade da criança.
A educação psicomotora é uma técnica, que através de exercícios e
jogos adequados a cada faixa etária leva a criança ao desenvolvimento global de
ser. Devendo estimular, de tal forma, toda uma atitude relacionada ao corpo,
respeitando as diferenças individuais (o ser é único, diferenciado e especial)
e levando a autonomia do indivíduo como lugar de percepção, expressão e criação
em todo seu potencial. Trata-se de uma técnica que objetiva ampliar as
possibilidades de maturação e interações da criança, sendo que deve ser
considerada antes de tudo uma experiência ativa de confrontação com o meio
interno e externo. Porque a partir deste contato, irá permitir uma integração
de estímulos deste ambiente, favorecendo o seu ajustamento com outras crianças.
Isto poderá ser possível também através de jogos, atividades lúdicas, motoras,
fontes de prazer, e remetendo neste contexto toda uma organização e sua imagem
no corpo, em relação às suas vivencias.
A educação psicomotora é desenvolvida como um elemento preventivo
ou profilático para dificuldades que possam surgir no processo de aprendizagem
escolar ou até mesmo para um trabalho reeducativo futuro, porque é integrante
do desenvolvimento natural da criança. O educador terá então uma função de
grande importância no desenvolvimento da criança. Ele irá acompanhá-la em suas
descobertas, no sentido de suas explorações do meio, podendo até mesmo,
estimular a criança, encorajá-la em seus desafios, favorecendo assim a promoção
do seu desenvolvimento. O educador também pode auxiliar no desbloquear,
desinibir, facilitar o amadurecimento, elevando a uma maior autonomia e
desenvolvimento da criatividade da criança.
Assim a estimulação psicomotora compreende-se por um programa que
envolve contribuições para o desenvolvimento harmonioso da criança no começo da
vida. São atividades que se preocupam e vão ao encontro das condições que o
individuo apresenta. Acima de tudo despertando o corpo e a afetividade por meio
de movimentos e jogos e buscando a harmonia constante. A estimulação
psicomotora tende a ser considerada como uma estimulação essencial à criança e
deve ser realizada nos primeiros anos de vida e entre pais e filhos.
Dentro da educação psicomotora deve-se alcançar três metas
básicas, objetivos:
- A aquisição do domínio corporal: definindo a lateralidade,
a orientação espacial, desenvolvendo a coordenação motora , o equilíbrio e a
flexibilidade.
- Controle da inibição voluntária: melhorando o nível de
abstração, concentração e desenvolvendo as gnosias.
- Desenvolvimento socio-afetivo: reforçando as atitudes de
lealdade, companheirismo e solidariedade.
Vygotsky afirmou que: No início da idade pré-escolar , quando
surgem os desejos que não podem ser imediatamente satisfeitos ou esquecidos, e
permanece ainda a característica do estágio precedente de uma tendência para a
satisfação imediata desses desejos, o comportamento da criança muda. Para
resolver essa tensão, a criança em idade pré-escolar envolve-se num mundo
ilusório e imaginário onde os desejos não realizáveis podem ser realizados, e
esse mundo é o que chamamos de brinquedo. A imaginação é um processo
psicológico novo para a criança. Com todas as funções da consciência, ela surge
originalmente da ação".
O brinquedo é, portanto, o reflexo do inconsciente da criança.
Este também pode ser denominado como fantasmas, ou seja, uma produção
imaginária do inconsciente, capaz de motivar o comportamento cem que o
indivíduo tenha consciência deles.
E através da ação, a criança sai descobrindo suas preferências e
adquirindo a consciência dos esquemas corporais, para isso é necessário que ele
vivencie diversas situações durante o seu desenvolvimento, nunca esquecendo que
a afetividade é a base de todo o processo de desenvolvimento e principalmente
ensino-aprendizagem, que por sua vez é favorecido, se a criança adquire um bom
desenvolvimento de todo seu esquema corporal.
A espontaneidade em que esta criança possa ser submetida , poderá
acarretar possibilidades desde organismo previamente educado em reagir de forma
espontânea a situações de urgência, isto será possível através de suas
vivencias. E Principalmente se esta espontaneidade for desenvolvida no contexto
afetivo, motor, mais tarde irá refletir um organismo capaz de elaborar metas e
estratégias adequadas ao tipo de situação em que este se encontrar e assim
estabelecer suas possibilidades.
Para se realizar uma atividade de educação psicomotora, é
necessário que haja um local apropriado, onde existam vários materiais para
serem utilizados (cordas, bolsa, colchão para saltos, jogos de montar, etc.).
Durante uma atividade devem ser desenvolvidos três momentos distintos:
- Iniciação (entrada): tem como objetivo reunir as crianças para
que se descreva o que vai ocorrer durante a sessão. Este momento é importante
porque permite que criança se identifique verbalmente e respeite o momento de
início da atividade.
- Desenvolvimento do jogo: Nesse momento a criança pode atuar
livremente nos brinquedos (jogando, se expressando, pulando, etc.).
- Termino ou saída: O grupo se reúne novamente para dizer o que fez, ou seja, fazer
um resumo das atividades.
Podemos
utilizar outras maneiras de iniciar e de terminar uma atividade, como por
exemplo: contar histórias, rodas cantadas, jogos e etc. Desta forma, a criança
será estimulada e ficará "atenta" para a atividade proposta. Para a
criança interagir neste processo é necessário que o professor saia de sua
postura e assuma uma postura de observador, para que a partir daí possa
interferir no processo de
desenvolvimento.
È importante ressaltar que a intervenção psicomotora no
desenvolvimento da criança, não se restringe a ser um recurso pedagógico, mas
sim possuir, além disso, toda a estrutura para trabalhar toda e qualquer ação
educativa, que conseqüentemente vai estar intimamente ligado o desenvolvimento
geral da criança tal como sua personalidade. Através do desenvolvimento da
educação psicomotora, é possível explorar as vivências, expressões,
aperfeiçoamento e integração das capacidades sensoriais, perceptivas, motoras,
cognitivas e afetivas da criança, e ainda tende s estimular e enriquecer a sua
relação consigo mesmo e com o mundo esterno e assim perpassar ativamente em sua
própria evolução.
Torna-se um fator primordial no processo de educação psicomotora o
fator social, ou seja, a presença dos pais encontra-se bastante significativo
para um bom desenvolvimento do trabalho do psicomotricista. Pois é através dos
pais que serão buscadas toda a informação necessária para contribuir no
desenvolvimento da criança.
No ensino tradicional é dito que a criança deve estar
biologicamente pronta para a aprendizagem. Isto quer dizer que a criança só
aprende quando amadurece (dentro do enfoque biológico). Esta é uma das grandes
"desculpas" para o fracasso escolar.O auxílio educativo geralmente é
proveniente dos pais e do âmbito escolar, tendo como finalidade mediante as
práticas da psicomotricidade exercer a função de ajustamento da criança seja de
forma individual ou coletiva. Dentro destes aspectos, a Educação Psicomotora
surgi para que haja um melhor desenvolvimento da criança, através da utilização
dos movimentos do corpo.
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Atividades
Complementares
1. A educação psicomotora na primeira
infância visa:
I Compreender a criança em sua evolução psicogenética
II Trabalhar a criança a partir da ação e da criação, objetivando a
vivência corporal em relação aos objetos.
III Ensinar
um repertório de conhecimentos indispensáveis para a vida adulta.
Está(ão)
correta(s) a(s) afirmativa(s):
A) apenas
I e II.
B) todas.
C) apenas
II e III
D)
nenhuma.
E) apenas
I
2. As principais características da educação psicomotora na escola maternal
são (Lapierre, 1986)
A) o
educador faz proposições e avalia a experiência negativa.
B) a
busca das respostas erradas e a sua superação.
C) o
encorajamento do sucesso e a busca pela auto-confiança.
D)
disponibilidade e aceitação das manifestações espontâneas da criança.
E) o
educador busca adaptar a criança aos espaços da escola, ensinando a dominar as
pulsações.
Trabalho
Final
Pesquisa:
Sistematizada por André Lapierre
e seus colaboradores, no final dos anos 70, a Psicomotricidade relacional, método de
abordagem corporal, tem por objetivo recuperar a história corporal-afetiva do
indivíduo. Em seus estudos, Lapierre perseguiu a origem da formação dos
sintomas, ditos psicomotores, concluindo que estes são influenciados pelas
relações tônico-afetivas.O que se compreende como relações tônico-afetivas de
acordo com Lapierre?
Configuração do Trabalho Final de
Módulo
Capa
Contra Capa
Conclusão
Referências Bibliográficas
NOTA: TODO TRABALHO REALIZADO NA
PÓS-GRADUAÇÃO É INDIVIDUAL E COM CONCLUSÃO PESSOAL
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